FDRP aprova Monumento em Homenagem à Juventude Negra na USP
Data de Publicação: 16/05/2025
A Congregação da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) aprovou a criação de um monumento em homenagem à juventude negra na USP. O projeto, proposto pela Diretoria da Faculdade em parceria com o Núcleo de Estudos e Pesquisas Jurídico-Raciais Esperança Garcia (NUEPEG), busca reafirmar o compromisso da Universidade com a inclusão, a diversidade e o respeito à história afro-brasileira.
A iniciativa é compartilhada com a Associação de Antigos Alunos da FDRP, que lançará campanha para arrecadar os recursos necessários para a construção da obra. O apoio do Centro Acadêmico Antonio Junqueira de Azevedo também foi decisivo para a aprovação da proposta.
A reunião da Congregação em que a obra foi aprovada ocorreu no dia 9 de maio, em mais um passo do processo de diálogo de toda a comunidade da FDRP sobre a iniciativa, desde oficina integrante da Semana de Recepção dos Calouros de 2024. Naquele evento, houve a apresentação da ideia do Monumento, e o escultor convidado apresentou as primeiras ideias sobre a obra, desenvolvida em diálogo com a comunidade da FDRP e com a equipe de arquitetos que elaborou o projeto executivo da expansão física da Unidade (cujas obras iniciam em alguns meses).
Na reunião da Congregação em que a obra foi aprovada, o relator da matéria, Prof. Camilo Zufelato, destacou que “no âmbito da FDRP são incontáveis as iniciativas de promoção das artes e da cultura como instrumentos de formação humanística, inclusão e pertencimento. De variadas modalidades, as artes sempre estiveram presentes na Unidade e nunca foram objeto de nenhum tipo de limitação sob qualquer viés. As manifestações artísticas de matriz africana devem receber o mesmo apoio e espaço que as demais manifestações artísticas, especialmente com o escopo de promover a referida pluralidade cultural e diversidade artística.”
Também o Diretor da FDRP, Prof. Nuno Coelho, destaca a importância da realização da obra, a despeito de manifestações isoladas que ignoram a importância da arte como elemento imprescindível da experiência e da formação universitária, e especialmente da justiça de se reconhecer a importância da presença da juventude negra na Universidade, após séculos de violenta exclusão.
O Monumento
O Monumento foi encomendado ao renomado artista plástico Jorge dos Anjos, conhecido por suas criações que exploram a ancestralidade africana. A obra terá 8,5 metros de altura, pesará 3 toneladas, e será instalada na frente da FDRP – em uma via de grande circulação no campus de Ribeirão Preto. Por isso, a obra será um presente para toda a comunidade do campus, pois será vista por milhares de pessoas todos os dias, que transitam pelo local.
Nascido em Ouro Preto, Minas Gerais, Jorge dos Anjos é um dos principais nomes da arte contemporânea brasileira, com obras como o Portal da Memória, na Lagoa da Pampulha, e o monumento Zumbi Liberdade e Resistência – 300 anos, ambos em Belo Horizonte. O artista tem obras em acervos em todo o mundo, dentre os quais o da Pinacoteca de São Paulo e o Museu Afro Brasil.
A escultura será uma estrutura vertical em metal vazado, incorporando símbolos geométricos que remetem à tradição visual africana, como justiça, resistência e equilíbrio. No topo, estará o pássaro Sankofa, que carrega o poderoso ensinamento de “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro”, um princípio fundamental da justiça restaurativa e da valorização da ancestralidade.
A inauguração do Monumento está prevista para agosto de 2025.
Uma USP Mais Diversa e Inclusiva
A criação deste monumento reflete os avanços recentes da USP em ampliar o acesso de estudantes negros, pardos e indígenas, com políticas como a reserva de vagas para candidatos PPI e o Provão Paulista. Contudo, a inclusão verdadeira exige mais do que acesso – envolve acolhimento, permanência e valorização.
A FDRP tem-se destacado neste esforço, promovendo iniciativas de bem-estar, integração e pertencimento para seus alunos. A instalação deste monumento é vista como um passo significativo neste esforço, reafirmando o compromisso da Faculdade com a justiça racial e o reconhecimento das contribuições da juventude negra para a sociedade e para a Universidade.
Em parecer ad hoc sobre o caso, o professor Fredson Carneiro destacou que a relação da universidade com a arte e a cultura é intrínseca, mas foi, por muito tempo, permeada pela hierarquização decorrente do racismo epistêmico que ocultou a contribuição da população negra no Brasil.
Por isso, exaltando a iniciativa de instalação de um monumento à juventude negra, Carneiro enfatizou que, por meio da obra, será possível afirmar e inscrever na paisagem da Universidade de São Paulo um símbolo do compromisso assumido pela comunidade acadêmica de erigirmos uma sociedade sem racismo.
Nesse sentido, de acordo com Isabella Amaro Costa de Oliveira, autora do manifesto do NUEPEG (acesse aqui) sobre o Monumento, “Monumentos, por mais simbólicos que sejam, não são capazes de alterar realidades se não estiverem acompanhados de compromissos institucionais contínuos com políticas de inclusão, permanência e enfrentamento das múltiplas formas de exclusão que ainda persistem. Desejamos que este monumento esteja à altura das perspectivas negras que o apoiou.” O documento do NUEPEG destaca ainda: “O campus da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto está intrinsecamente conectado à história de fundação, expansão e exclusão racial da cidade que o abriga. Situado nas terras da antiga Fazenda Monte Alegre, o campus carrega em sua formação material e simbólica a herança da economia escravocrata, da concentração fundiária e do poder oligárquico local. A propriedade em questão foi inicialmente adquirida, em 1874, por João Franco, um fazendeiro, criador de gado e comerciante de escravizados. Posteriormente, a fazenda foi vendida a Francisco Schmidt, o “Rei do Café”, responsável por transformá-la em um dos maiores polos produtores de café do país, contando com cerca de 14 milhões de pés de café e o trabalho forçado de aproximadamente 14 mil colonos, muitos dos quais oriundos da escravidão recém-abolida.”
A atual equipe de gestão do NUEPEG é composta por Bruna Mota, Heloise Vicente, Isabella Amaro da Costa Oliveira, Isadora Ándrea Santos, Lara Barberino, Maria Eduarda Matos, Patrick Lopes e Vinicius Coelho.
A Associação de Antigos Alunos da FDRP
De acordo com o documento enviado à Congregação da FDRP, a Associação de Antigos Aunos da FDRP “almeja, ainda, utilizar a mobilização da campanha para criar um fundo permanente destinado à concessão de bolsas de estudos a estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, ampliando, assim, o alcance dos efeitos transformadores que esta iniciativa inspira.” A Associação assumiu o compromisso de “conduzir a campanha de captação com transparência, responsabilidade e prestação pública de contas, mobilizando os antigos alunos e a sociedade civil em prol de um projeto que conjuga arte, inclusão e compromisso institucional.” Todos os antigos alunos estão convidados a participar da comissão vai conduzir a campanha de arrecadação de fundos, que contará com o apoio logístico e operacional de TN Advogados, um dos importantes e inovadores escritórios de advocacia fundados por ex-alunos da FDRP.
Como Apoiar
A campanha de arrecadação será uma oportunidade para que toda a comunidade se una em torno desta causa histórica. Interessados em apoiar a construção do monumento poderão contribuir financeiramente e ajudar a transformar o campus de Ribeirão Preto da USP em um símbolo vivo de inclusão, respeito e reconhecimento da história afro-brasileira.
O lançamento da campanha Pró-Monumento em Homenagem à Juventude Negra na USP ocorrerá no dia 29 de maio, às 11h, sendo uma das atividades integrantes do II Festival de Justiça, Cultura e Arte da FDRP.
Para mais informações sobre como contribuir, entre em contato com a Diretoria da FDRP (dirfdrp@usp.br), com o NUEPEG ou com a Associação de Antigos Alunos da FDRP.